Após a ocorrência de lesão cerebral, que pode acontecer por diversas causas já citadas em outros textos do nosso blog, dependendo do local e extensão da área cerebral acometida, o sujeito pode apresentar dificuldade comunicativa, devido a um déficit de linguagem. Essas dificuldades podem apresentar-se clinicamente como a perda da capacidade de compreensão, dificuldade para expressar nomes de objetos, e até mesmo a perda da capacidade de emitir qualquer palavra ou expressão oral, como no caso do mutismo. Muitas são as classificações das Afasias e dessa forma abordamos neste texto as tipologias destas, para esclarecer o que pode estar acontecendo no caso do sujeito afásico, sendo ele seu familiar, amigo ou paciente.
É importante destacar que não existem duas pessoas que usem a linguagem de maneira idêntica, tampouco com afasias idênticas (Brust, 2000), mas por meio das manifestações clínicas e identificação das habilidades linguísticas comprometidas, torna-se possível agrupá-los em uma mesma classificação de afasia.
Primeiramente é importante relembrarmos de forma breve a neuroanatomia da linguagem. Na figura abaixo, é possível identificarmos as principais áreas cerebrais relacionadas ao processamento da linguagem e que podem os auxiliar a entender melhor o que pode estar acontecendo com o afásico.
- A área de Broca, destacada em vermelho é a área que coordena a função motora e está relacionada à expressão da linguagem.
- A área de Wernicke, destacada em amarelo, é a área que coordena a função sensitiva e esta relacionada à compreensão da linguagem.
- Podemos localizar destacada em cor rosa, o Fascículo Arqueado, que é constituído por fibras nervosas, que possibilitam a comunicação entre as áreas de Broca e Wernicke.
- Destacado em azul, está córtex auditivo, responsável pela recepção e processamento das informações auditivas e na cor laranja, em região mais posterior está destacado o córtex visual, responsável pela recepção e processamento das informações visuais.
Os processos linguísticos e cognitivos mais complexos dependem da integração simultânea dessas áreas citadas.
A classificação clínica tradicional das afasias baseia-se nos desempenhos do paciente quanto às habilidades linguísticas. Em postagem anterior do blog, caracterizamos cada uma delas. Não existe ainda uma classificação das afasias, universalmente padronizada, mas grande parte procura determinar um aspecto dicotômico, como: Afasia motora e sensitiva; de expressão ou recepção; fluente ou não fluente. Desta forma, vamos classifica-las em três grandes grupos: Afasia de expressão, de compreensão e afasias mistas.
Afasias de expressão
Afasia de Broca: Também conhecida como afasia motora, a expressão oral pode estar comprometida em diversos graus, gerando grande dificuldade para falar, mas com compreensão mantendo-se preservada ou levemente comprometida. Está relacionada a lesões no lobo frontal do cérebro. Os sujeitos com esse tipo de afasia podem apresentar mutismo, supressão da escrita, estereotipias, parafasias e agramatismos.
Afasia de Condução: A característica marcante desse tipo de afasia é a dificuldade na habilidade de repetição. Anatomicamente essa lesão atinge o fascículo arqueado. A fala é fluente, porém o discurso é composto por hesitações e autocorreções, podendo ocorrer anomias e parafasias durante a conversação.
Afasia Transcortical Motora: Nessa afasia, o paciente apresenta uma redução importante da linguagem espontânea, sendo a expressão lenta e breve. A repetição está preservada e é muito melhor do que e expressão oral espontânea. A escrita pode-se observar a mesma falta de iniciativa apresentada na fala. Leitura normal ou pouco alterada e compreensão preservada.
Afasias de compreensão
Afasia de Wernicke: A compreensão nessa afasia está gravemente comprometida e há dificuldade de repetição e nomeação. A fala é fluente, logorréica, sem considerar o interlocutor, caracterizada por jargões e neologismos. A compreensão da escrita também é prejudicada. Está relacionada à lesão do córtex auditivo primário, que prejudica a decodificação necessária para a compreensão da linguagem falada.
Afasia Transcortical Sensorial: Nesses casos o paciente é capaz de realizar repetição, porém sem necessariamente compreender o que está sendo dito. A fala é fluente, porém vazias, com parafasias semânticas, anomias e cincunlóquios. A compreensão da linguagem falada é muito precária, e só existe entendimento de palavras muito frequentes. A compreensão da escrita também está alterada, e é possível que o paciente apresente leitura em voz alta, mas sem compreender o que leu. O comprometimento nessa afasia é lesão da área posterior do cérebro, fronteiriça à área de Wernicke.
Afasia Anômica: Caracterizada basicamente por alterações semânticas, estando o acesso lexical prejudicado. O discurso caracteriza-se por parafasias semânticas, perífrases e anomia. Essa afasia muitas vezes é a evolução das afasias de Wernicke ou transcortical sensorial, estando a compreensão oral já recuperada ou levemente comprometida. Na escrita podem ser encontradas as mesmas falhas do discurso oral e a leitura geralmente está preservada.
Afasias Mistas
Afasia Global: É a afasia mais grave, caracterizada por comprometimento significativo da expressão e da compreensão oral e gráfica. Muitas vezes o paciente apresenta mutismo na emissão oral e sua comunicação está restrita a estereotipias e automatismos. Há supressão da emissão gráfica. Muitos dos casos evoluem para uma afasia de Broca.
Afasia Transcortical Mista: A repetição está preservada, mas a expressão e compreensão severamente prejudicadas. A emissão oral é caracterizada por ecolalias ou estereotipias . O que é perguntado ao paciente ele não entende, mas repete tudo de forma excepcional. Geralmente há supressão da escrita. Atinge a zona fronteiriça entre os lobos parietal, frontal e temporal.
Afasia Mista: São casos que apresentam características de vários quadros descritos, sem restringirem a nenhum deles. São muito comuns
Imagem retiradas do blog: Fonoaudiologia todo para el futuro fonoaudiólogo
Em breve postaremos mais alguns tipos de afasias que podem acontecer em lesões subcorticais e nas demências!
Até breve!
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSENCIO-FERREIRA VJ. Afasias. Conhecimentos essenciais para entender a inter-relação Neurologia Fonoaudiologia. São José dos Campos: Pulso, 2003, cap. 2, P. 33-43.
ORTIZ KZ. Afasia. Distúrbios neurológicos adquiridos: linguagem e cognição. Barueri: Manole, 2010, 2º ed, cap 3, p. 47-64.
KAGAN A; SALING MM. Princípios teóricos por trás da abordagem neuropsicológica de Luria. Uma introdução à afasiologia de Luria teoria e aplicação. São Paulo: Artes Médicas Sul , 1997, cap 1, p. 19-34.
Gostaria que vocês falassem das manifestações que mais caracterizam o diagnóstico de cada afasia